Era uma vez um homem, que de machado e foice na mão, rosto endurecido e olhos fixos em frente, se dirigia, por caminho estreito, para a floresta.
Alguém, figura encantadora, mãos vazias, pés nus, olhar vivo, penetrante e sereno, aproximou-se e saudando, perguntou:
- “Para onde vais?”
Sem se voltar, respondeu:
- “Vou para a floresta cortar árvores e ramos secos. Pela tarde levo-o para o aquecimento da minha casa e para vender aos vizinhos. Sou lenhador.
O meu trabalho é por aqui; conheço a floresta e cada uma das suas árvores!”
Fez-se silêncio profundo e os dois, lado a lado, penetraram floresta dentro:
- Um de olhos fixos no além, o outro olhando o seu companheiro com doçura.
O lenhador, vencendo a desconfiança e o medo perguntou:
- “E vós que fazeis e quem sois?”
A resposta veio serena, compassada, sonora:
- “Eu não sou lenhador. Sou o senhor da floresta. Sou a fonte da água viva. Não venho cortar, destruir, queimar. Venho dar vida, renovar.”
E continuou, caminhando de passo decidido.
- “Lembras-te daquela árvore, ali em frente que, por falta de água, secou”?
- “Perfeitamente, meu senhor, era grande imponente mesmo!”
A água deve ser como o amor… se seca, tudo morre! Mais lhe digo: Vou cortá-la hoje!”
O monte era duro, os passos vagarosos, pararam. E passados uns momentos, o lenhador ouviu uma voz forte, compassada e interpelante:
- “Pára e escuta: Eis aquele que é o senhor, que é a vida”
Aquela voz emergia dos quatro cantos da terra e enchia o mundo. O lenhador desfaleceu nos braços do companheiro. Quando retomou os sentidos, já não o viu.
Então gritou:
- “Senhor: Tu abandonaste-me? Onde estás?”
E a mesma voz, lá de muito longe ecoou na floresta.
- “Não te abandonei. Não te abandonarei. Eu não abandono ninguém. De hoje em diante não serás mais lenhador.
Eu sou o senhor da floresta. Tu és desde agora o seu guarda.
Ficas a trabalhar para mim.
És o meu trabalhador.”
Concluiu:
- “ Quero uma floresta nova. Preciso de ti!”
Padre Adriano Brito
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